– Pois esse meu amigo tinha uma espécie de tia, uma velhinha que eu conhecia de vista. Ela pintava de vez em quando no boteco dele pra comer mocotó numa travessa enorme, com pimenta vermelha e uma jarra de vinho tinto pra rebater.
– Ô, velha porreta!
– Um dia eu estava tomando cerveja com o cara e ele me contou essa história: a velhinha era aposentada e tinha trabalhado muito tempo num lugar onde havia muitas oportunidades de conhecer gente nova. Ela saiu de lá com uma porção de amigos, amigas, conhecidos, camaradas, o escambau, e resolveu adotar um meio de vida bem peculiar. Ela começou a “agenciar” encontros entre seus amigos e suas amigas. Normalmente eram velhinhos que estavam a fim de uma bimbada. Então ligavam para a casa dela, pedindo uma mulher assim assado, ou já pediam direto uma que fosse preferida deles. Então a tia ligava para a mulher e marcava uma ponta pra dali a dois, três dias.
– Mas que espécie de mulheres faziam esse tipo de programa?
– Aí que me caiu a bunda de espanto: eram mulheres casadas, algumas muito bem casadas. Tinha uma que era mulher de um fazendeiro, um puta mulherão, que ia dar o rabo porque gostava. De dinheiro ela não precisava. Só dá pra imaginar que o maridão não dava no couro, então ela ia lá pra levar ferro.
– Que coisa...
– Yeah, sei que, um dia, um velhinho foi lá pra "dar de comer pro ganso". Chegou, tomou um uisquezinho na sala, sentado no sofá. A mulher que ele ia comer já tava lá, sentada numa poltrona. Na outra poltrona, a tia fazia tricô. Conversaram amenidades por meia hora, depois chegou a hora do vamo-vê. Foram os dois pro quarto, e a tia continuou no tricô, mas deu uma olhada discreta no relógio, no caso do velho passar do horário. Muy bien, de repente vem a gritaria de dentro do quarto: “ai ai ai, socorro! aaaaaai, aaaaai!”
– Putz, que foi que houve?
– A velha abriu a porta e se deparou com a cena: a mulher se torcia feito cobra doida debaixo do velho, que estava MORTO em cima dela. O cara tinha tido um troço no coração enquanto comia a donzela, e foi fulminante.
– Porra, isso é que é jeito de morrer!
– Sei que tiraram o velho de dentro daquela buceta e deitaram ele de costas. O pau do véio ainda tava de pé, feito mastro de bandeira. A puta começou a chorar, dizendo: “Dona fulana, ele tá morto, ele morreu, e agora?”. A véia disse: “Olha, põe a tua roupa e vai embora, eu me viro com esse presunto.”. Foi o que a mina fez. Então a velha se sentou na sala, pegou um uísque e começou a pensar no que fazer...
– Situação de bosta, hein?
– Sim, ela não podia chamar a polícia, porque ia acabar presa como assassina ou cafetina, ou os dois. Se livrar do presunto era mais arriscado e suspeito que chamar a polícia. Meio desesperada, ela ligou pra uma irmã, e disse: “Vem pra cá que tem um pepino dos grandes”. Quando a irmã chegou e soube do caso, se sentou e começou a pensar também. Sei que tiveram uma idéia...
– Que idéia?
– Pegaram o defunto, deram um banho e vestiram. Colocaram ele sentado na sala, com um copo d'água na mão. Na carteira dele, acharam um número de telefone e discaram. Era do trabalho da filha do véio. Aí a tia disse: “Ah, dona fulana, seu pai está aqui na minha casa. ele bateu na porta e disse que estava se sentindo mal, e pediu um copo d’água. Eu dei o copo d’água e vi que ele estava mal mesmo. Perguntei se ele queria entrar e sentar um pouco. Ele disse que sim e pediu pra ligar pro seu número. Por favor, venha pra cá que seu pai está mal!”
– Putz! E colou a história?
– Bom, meia hora depois chega a família em peso. Cercam o presunto no sofá. É claro que levam meio segundo pra descobrir que o velho estava morto. Quando o filho do cara diz isso, a tia faz o maior escândalo, e desata a chorar. Sei que começaram a consolar a tia! Agradeceram profusamente o fato de ela ter socorrido o velhinho, disseram que ele era cardíaco, com meia dúzia de pontes de safena. A história colou mais do que bem. A família acabou amiga da tia, deram presentes pra ela, inclusive deram dinheiro!
– Não acredito... e nunca souberam?
– Nyet. Nunca desconfiaram que a tia armava bimbada pro véio... hehehe...
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(*) "Lupanar" é "puteiro", bando de ignorantes!