Casamento no Brasil é coisa séria. Tão séria que, às vezes, a seriedade escorrega e cai de cara no chão da breguice.
Pois não é que em pleno 2001, século XXI já batendo na porta com celular de flip e Britney Spears na MTV, um cidadão foi intimado a ser padrinho de casamento? Até aí, normal: padrinho só precisa sorrir, pagar presente caro e tentar não cair no tapete da igreja.
Mas a desgraça mora no detalhe. O dress code, essa invenção de gente que acha que “terno” é pouco, exigia meio-fraque para os padrinhos. Repito: MEIO-FRAQUE. O traje que não é fraque inteiro nem paletó comum. É tipo anfíbio de brejo: não voa, não nada, mas atrapalha quem tenta.
E as madrinhas? Ah, essas vinham de uniforme cromático: verdes de um lado, azuis do outro, lembrando mais torcida organizada em clássico de futebol do que cortejo nupcial. Faltava apenas o bandeirão na arquibancada da nave central.
Mas o ponto alto — ou baixo, depende da régua estética — foi o noivo. O pobre infeliz resolveu encarnar uma mistura de maestro do Scala com capa de botijão de gás: fraque completo de veludo azul-marinho, colete incluso. No calor de novembro. Quem já suou dentro de ônibus lotado às duas da tarde vai entender a cena: suor escorrendo mais que vela de promessa.
E a noiva? Bom, parecia encomenda direta da Confeitaria Colombo: toda branca, açucarada, enfeite de bolo pronto para derreter ao sol. E com uma cauda quilométrica, tão comprida que precisava de três páginas no Código Civil só pra caber na descrição.
Resumo da ópera: foi um espetáculo digno de nota. A Igreja, que já sofreu com hereges, invasões e reformas, agora enfrentava seu maior desafio: sobreviver à estética kitsch de um casamento brasileiro.
No fim, todos saíram felizes. Uns porque casaram, outros porque sobreviveram ao calor, e muitos porque puderam contar a história depois. Afinal, brega é que nem sogra: a gente reclama, mas rende boas crônicas.
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