(à maneira de George Mikes, com galinácea de apoio moral)
(O fio da crônica pode ser lido aqui: https://www.threads.com/@derrotaf/post/DRDPEBSETa0?xmt=AQF0rGvDDIfFGv2Wcn6q58AxRP_i1aSCJwerBWR9NwKed0uADO8FfG5XSqn65obW1FGsJ-g&slof=1)
Há quem tema que a crônica brasileira tenha perdido o pudor de rir de si mesma — e, mais grave, do próprio intestino. Surge então Vitória (@derrotaf), que se apresenta como “um bife à milanesa acometido de depressão” e escreve “Minha cirurgia de Hemorroidas — Parte 2: O Retorno!!!” com a fleuma de uma britânica que trocou o chá das cinco por óleo mineral às seis.
Mikes aprovaria: a graça nasce do contraste entre a compostura e o caos. Vitória relata gases com pontualidade ferroviária, cataloga fármacos como quem descreve talheres e, num gesto científico digno de Oxford, cheira o papel (apenas encostado, esclarece) para aferir notas de pus. É o humor seco do gentleman aplicado ao banheiro público da vida.
A metáfora triunfa quando “as novas pregas piscam”: Hamlet, versão retal. O drama épico desloca-se do campo de batalha para o trono de porcelana — Aquiles com ibuprofeno, Eneias com cetoprofeno, Ulisses guiado por Lactugold. Nada é gratuito: cada frase é dreno, cada hipérbole, uma sutura.
E então entra a galinha Brigadeiro — não mero adereço, mas coro grego de penugem. Enquanto a nação aguarda o “desfecho cremoso”, Brigadeiro oferece a vigilância estoica do galináceo metafísico: a ave que cacareja diante do destino e testemunha, impassível, a tragicomédia do esfíncter humano. Em Mikes, haveria um vizinho húngaro; em Vitória, há uma galinha brasileira — e é perfeito. O absurdo ganha penas e, com isso, respeitabilidade literária.
Conclusão: se existisse Nobel de Sinceridade Sanitária, Vitória levaria com menção honrosa à Brigadeiro, patrona da resiliência intestinal. Aguardemos a Parte 3 — O Desfecho Cremoso, munidos de humor britânico, papel folha dupla e um respeitoso “có-có-ri-có” para a musa emplumada que, de cima do varal, nos lembra: tudo passa — até o que demora a passar.
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